quarta-feira, 8 de outubro de 2008

CEAGESP terá base para coibir prostituição infantil

Prefeitura de São Paulo assina convênio com CEAGESP para colocar agentes com orientar garotas

Por Martici Capitelli do Jornal da Tarde

O grande número de prostitutas adolescentes, algumas ainda crianças, na área da CEAGESP na Zona Oeste da Capital fez a prefeitura e a empresa firmarem convênio para instalar uma base com agentes que combaterão a prática. Cerca de 50.000 pessoas circulam diariamente pela CEAGESP e imediações.

O JT esteve por uma madrugada na CEAGESP e encontrou na área entre um forte cheiro de temperos, frutas, peixes e o colorido das flores um mundo de crianças vítimas de exploração sexual. Cerca de trinta garotas, sendo a mais nova com nove anos de idade. Um programa custa em média, R$30,00.

O desafio dos agentes de proteção que trabalharão na base do entreposto será estabelecer vínculo com essas meninas para resgatá-las da situação de exploração e violência em que se encontram. Só que essas garotas não se sentem exploradas. Dizem que estão trabalhando para sobreviver, e muitas têm o aval da família. "Futuro? Nunca penso nisso, não tenho planos, quero meu dinheiro hoje para sustentar minha filha e comprar minhas coisas" diz C. de 16 anos, mãe de uma menina de dois e que parou de estudar na quinta série. Assim como a maioria de suas colegas, ela leva para casa os hortifruti que ficaram no chão da CEAGESP. 

Algumas meninas contam que se prostituiram como consequência do trabalho de muambar, levadas pela mãe ou por vizinhas quando pequenas, elas ajudam a catar sobras "A gente vinha com a nossa mãe para pegar comida e aí os caras falavam que davam R$ 30,00 pra fazer sexo, é bem mais fácil assim, né!" diz P. de 14 anos e dois abortos neste ano. Ela se prostitui na CEAGESP com as três irmãs, a menor com 9 anos e tem outros sete irmãos.

Segundo as garotas, os clientes não são apenas caminhoneiros, mas também permissionários, funcionários e ajudantes "Meu primeiro programa foi com um dono de box que me ofereceu R$ 30,00, na época eu tinha 12 anos e vendia balas e o pai da minha filha engravidou ao mesmo tempo a minha melhor amiga e nunca assumiu" diz P.

A maior parte das meninas mora em Jandira e em Itapevi na Grande São Paulo. Há também garotas das favelas vizinhas a CEAGESP. As que vêm de outros municípios são atraídas pelo acesso fácil, já que há uma estação da CPTM em frente a CEAGESP.

Oficialmente a CEAGESP proíbe a entrada de menores sozinhos, mas como frequentam o local há muitos anos, as garotas são conhecidas e têm acesso facilitado por quem trabalha na área. Das 16:00 às 21:00 horas elas ficam na CEAGESP e depois deste horário vão fazer ponto nas ruas próximas. Por volta da 01:00h retornam por conta do movimento das feiras. Às sextas-feiras e os dias 10, quando os clientes recebem o salário, são mais movimentados. Na madrugada muitas tomam banho nos banheiros do entreposto, pagam R$1,50 "Ficam aquelas meninas usando droga. Denunciar resolve? E para quem denunciamos, se as mães concordam?" diz uma funcionária.

No meio deste mundo, as meninas têm apoio na figura de uma ex prostituta de 43 anos que fez programas no local na adolescência, e agora aconselha as jovens a sair desta vida. Ela vive de recolher alimentos e vender. Para ela um programa social não é o suficiente para transforma a vida das garotas. "É preciso punir as mães. Sabem o que as filhas fazem e aceitam ser sustentadas por esse dinheiro".

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